Ética Médica em Traumatologia Desportiva

A prática da Medicina do (no) Desporto levanta algumas questões que podem entrar em conflito, pela relação histórica, entre estas duas áreas – Medicina e Desporto – que historicamente tiveram objetivos “rivais”.

Se há muitos anos atrás, a Medicina “via” o desporto a ser efetuado idealmente com moderação, a partir do Século XXI e com a criação dos “Médicos de Equipa”, houve necessidade de haver uma adaptação da visão dos Médicos que acompanham atletas de elite com objetivos desportivos para cumprir.

Uma dessas adaptações prendeu-se com a necessidade de uma visão também virada para o rendimento e tentativa de melhoria da performance e que, nalguns aspetos, anda próximo de determinados limites fisiológicos, com necessidade de haver uma monitorização e gestão de variados parâmetros, no sentido de diminuir a probabilidade de aparecimento de doença/lesão, que obriga (idealmente) a suspensão da atividade desportiva.

Outra questão que deve ser considerada, e não pode ser esquecida é o contexto da função do Médico, seja como Médico de Equipa, seja como Médico a título particular do atleta, em regime de Consultório, o que lhe acarreta diferentes responsabilidades já que, enquanto na primeira situação há uma relação contratual do Médico o com Clube, o que implica uma responsabilidade prática na partilha de determinada informação com outros elementos da estrutura, ao contrário do caso em que o Médico observa o atleta de forma particular, em que existe uma relação inequívoca de estrita confidencialidade, colocando questões éticas diferentes.

A relação Médico-atleta, pelo número de horas de convívio e na maioria das vezes pela proximidade inerente, pode tornar determinadas decisões mais difícil de tomar, ao contrário das relações esporádicas e pontuais em contexto de consultório. Fatores como o estado de maturação do atleta, modalidade, nível competitivo e objetivos desportivos têm também de ser considerados, podendo condicionar determinada forma de atuação por parte do Médico. Apesar de rodeado na maior parte das vezes por uma Equipa Multidisciplinar, a posição de Médico de Equipa é geralmente uma posição “solitária” em termos de tomada de decisão (por motivos éticos), podendo levar a alguns conflitos interiores e mesmo no seio da própria Equipa.

O Mundo do Desporto de competição é afetado por determinados aspetos éticos que do ponto de vista da Medicina e da literatura Médica ainda não estão bem explorados, não havendo um código ético próprio, mas sim o código ético geral da Medicina mas que, não responde completamente a determinados aspetos que se colocam nesta Área.


Artigo publicado na segunda edição da Revista de Reabilitação e Traumatologia do Desporto, que pode ser consultada aqui ou através do site: jrtd.pt/revista.

Autor: Nuno Loureiro

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