A fáscia plantar localiza-se superficialmente aos músculos e profundamente à gordura subcutânea da planta do pé. É uma estrutura fibroaponevrotica formada por 3 banda distintas, que se estende desde o calcanhar até aos ossos (falanges) e tendões flexores dos dedos. Tem a importante função de evitar o colapso do arco do pé e é uma estrutura muito importante tanto para o amortecimento como a propulsão durante a marcha e a corrida.
A patologia da fáscia plantar é uma das causas mais comuns de dor no calcanhar em atletas e pessoas com atividades profissionais que exijam muita caminhada ou muito tempo de pé. Por haver pouca ou nenhuma inflamação associada à dor na fáscia plantar, o termo fasceíte (o sufixo -ite significa inflamação) foi substituído por fasciopatia. O esporão do calcâneo é uma formação óssea espiculada que se forma próximo da origem à fáscia plantar e surge em pessoas com ou sem dor no calcanhar em resposta à carga compressiva vertical associada à tração da fáscia plantar e músculos do pé, sendo por vezes erradamente considerada a causa da dor no calcanhar.
A fasciopatia plantar é muito frequente, mas a dor na planta do calcanhar pode ser devida a mais de uma dezena de outras patologias que importa excluir. O diagnóstico é predominantemente clínico, através da história clínica e exame físico. Sendo a apresentação típica a dor na planta do calcâneo na posição de pé, tipicamente pior de manhã ao sair da cama e ao final do dia, geralmente com agravamento gradual ao longo do tempo, por vezes tornando-se muito forte e incapacitante. Um exame físico detalhado na marquesa, de pé e com avaliação da marcha é essencial para o diagnóstico e permite definir o melhor tratamento. A ecografia é uma ferramenta muito útil para o diagnóstico diferencial e das alterações estruturais tipicamente associadas à fasciopatia plantar.
O tratamento conservador resolve a grande maioria dos casos, sendo essencial abordar não apenas a patologia local do calcanhar como também as possíveis causas biomecânicas e outros fatores que contribuem para a fasciopatia plantar, geralmente por aumento das cargas compressivas e/ou tensionais na fáscia. O alivio completo da dor pode demorar meses, sendo frequentemente necessária uma abordagem multimodal com tratamentos passivos dirigidos à inserção da fáscia plantar (por exemplo, medicina regenerativa com fatores de crescimento ou ondas de choque), tratamentos ativos dirigidos à relação entre os músculos de perna e a fáscia plantar (por exemplo, o reforço muscular e o alongamento), a correção de fatores biomecânicos (por exemplo, uso de palmilha) e a gestão de cargas (nomeadamente as pliométricas ou de salto).
Autor: Luís Lima